sem título

Doentes são aqueles que procuram a cura – buscam a vida não importa o que aconteça –, sempre um pouco mais, mesmo incurável procura a cura, inabalável certeza da doença, assim busca a cura, busca a salvação naquilo que viveu, o passado pede futuro, no agora vige a promessa, “fiz hoje, pago amanhã”, “semeie o hoje para colher o amanhã”, mas não é presente, já passou, é passado, pode voltar, reler com calma, a esperança vence qualquer trauma, tem de acreditar, do contrário já morreu, futuro: uma leito de hospital. O paciente terminal, num súbito momento de lucidez, explica ao médico das quinze horas: “eu tenho gosto de antibiótico, pode lamber, limpe minha pele com tua boca suja, sinta o gosto que tem, deslize logo essa língua, toma o remédio no meu corpo, beba da fonte da juventude, ela mora aqui nessa cama de hospital”. O médico chamou a enfermeira, – também ela não acredita no que ouve –; “chupa, chupa, a cura está aqui, vem beber da fonte da juventude, sei que não tenho chance, mas posso ajudá-los ainda, sinta o gosto e veja o quanto isso faz bem, pela boca descubra todos os outros sentidos, veja, toque, escute essa boca, ela grita “maldita, maldita!”.