Mil lugares, mil histórias, mil formas de dizer a mesma coisa de um jeito diferente, entender o conto, o romance... mas sobretudo o amor: a maior narrativa de ficção, livro de mil dias, mil anos, mil séculos, mil e uma noites pressupõem mil dias, mil começos, dois mil recomeços, três mil finais felizes, anos e anos de nós mesmos, dias e dias depois mil perguntas, sempre as mesmas mil, quem veio antes ¿a noite ou o dia?, ¿o ovo ou a galinha? Mil, dois mil, três mil, até quanto se pode contar?
A resposta é certeira – ao menos para esta última –, não tem como errar, remonta à primeira aula de matemática, “conta-se até onde se pode contar; existe o infinito”, diz a professorinha. Engraçado, não é? o desejo que se confunde com poder não responde adequadamente à pergunta. Conta-se até quanto se quer contar, numa visão volitiva, já numa pragmática dir-se-ia: conta-se até quanto se precisa contar, numa visão realística: conta-se até quanto tivermos saco pra contar e, de fato, colocar tudo lá dentro, um saco de nada, lá fora o infinito, – um saco cheio não responde a pergunta: até quanto se pode contar?
Nada? Conta-se também, é o vazio, mil vezes solidão, mil famílias sozinhas, mil reunidas, mil eus, mil de nós, mil deles, neles, elas, mil delas, neles, mil disso que você pensou, mil mulheres mil homens, um sobre o outro, mil deles, elas: nelas neles eles, em algum lugar, todos os lugares: mil, dois mil, três mil, – passo a contar em italiano, uno, due, tre, quatro, cinque, sei, sette, otto, nove, deici, undici...
Desisti de todo o convencimento, abandonei as causas e os efeitos: as palavras são uma piada; optei por impressionar com a matemática, em língua estrangeira, sem eira nem beira, sorria meu bem.